Justiça feita: Secretário da Segurança é exonerado
- 17/05/2025
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O secretário municipal de Segurança Pública de Mogi Mirim, Luiz Carlos Pinto, foi exonerado nesta sexta-feira (16) após um processo de desgaste crescente dentro da administração Paulo Silva (MDB).
A saída ocorre em meio à abertura de sindicância interna, denúncias de servidores da Guarda Civil Municipal (GCM) e perda de apoio político. É o segundo secretário a deixar o governo neste ano, após a saída de Allan Rodrigues, ex-titular da Mobilidade Urbana, envolvido em denúncia por trabalho análogo à escravidão.
Embora a nota oficial divulgada pela Prefeitura afirme que o pedido partiu do próprio Luiz Carlos, com justificativa de "motivos pessoais" e da necessidade de se defender de maneira adequada, a exoneração já era esperada diante da pressão interna e da repercussão de denúncias publicadas pelo Portal da Cidade no início do mês.
Uma ala do governo também enfrentou críticas pela tentativa de antecipar a narrativa da saída do secretário, por meio de canais informais, antes de notificar oficialmente a imprensa local.
Comunicação sob suspeita
O episódio também revelou fragilidades graves na comunicação institucional da Prefeitura. Embora a nota oficial só tenha sido enviada à imprensa por volta das 13h, a informação já circulava nos bastidores da própria administração desde o início da manhã.
Um portal local alinhado ao governo publicou, por volta das 10h, uma matéria em tom elogioso e de agradecimento sobre a saída do secretário. Às 11h35, o assessor de comunicação da Prefeitura, Alex Costa - vinculado à Secretaria de Relações Institucionais da vice-prefeita Maria Helena Scudeler de Barros - divulgou a informação em seu perfil pessoal nas redes sociais, reproduzindo a nota que ainda sequer havia sido encaminhada para a imprensa local.
Ao omitir os verdadeiros motivos da saída e antecipar a divulgação por meios não oficiais, aliados de Luiz Carlos tentaram claramente controlar a narrativa, esvaziando o papel da imprensa local e sonegando à população elementos fundamentais da crise. A estratégia falhou e reforçou ainda mais o desgaste do agora ex-secretário.
Denúncia de servidora e histórico de conflitos
A crise no comando da Secretaria de Segurança se aprofundou após denúncia publicada pelo Portal da Cidade no último dia 9 de maio. Uma servidora da GCM — com mais de 30 anos de atuação na administração pública — registrou boletim de ocorrência relatando constrangimento no ambiente de trabalho e condutas reiteradas consideradas desrespeitosas por parte de Luiz Carlos.
De acordo com o documento, o episódio mais recente ocorreu em 25 de abril. Após esquecer um colete balístico em uma viatura, a agente foi abordada de forma ríspida pelo secretário e convidada a entrar em uma sala para esclarecimentos — o que ela interpretou como uma tentativa informal de abertura de sindicância. Ao se recusar e afirmar que levaria o caso à Polícia Civil, ouviu como resposta: “pode ir”.
Ela também relatou outros episódios envolvendo a postura do secretário, afirmou ter assinado um abaixo-assinado pedindo seu afastamento e prestado depoimento em processos administrativos internos. O boletim foi registrado como forma de “resguardo pessoal”, após ter sido questionada, de forma indireta, sobre quem estaria “a orientando” a tomar tais atitudes.
Não era a primeira vez que Luiz Carlos estava no centro de polêmicas. Em 2023, vereadores chegaram a pedir seu afastamento com base em denúncias semelhantes de guardas municipais. O secretário foi convocado à Câmara e houve mobilizações internas que pediam sua saída.
Reunião selou saída
A decisão de deixar o cargo foi tomada após reunião realizada na quinta-feira (15), sob clima de tensão. Nos bastidores, Luiz Carlos ainda tentava obter apoio de colegas do secretariado, mas encontrou portas fechadas. Isolado, optou por formalizar o pedido de exoneração. O prefeito Paulo Silva aceitou prontamente.
Apesar do reconhecimento a algumas ações da gestão, como a Patrulha Maria da Penha, o Botão do Pânico e a reativação da Guarda Municipal Rural, o desgaste político já tornava sua permanência insustentável.
“Sempre atuei com diálogo”, diz Luiz Carlos
Procurado pela reportagem quando a denúncia foi revelada, Luiz Carlos respondeu por escrito, negando qualquer conduta inadequada. “Recebo tais alegações com respeito, mas discordo veementemente delas. Desde o início da minha gestão, sempre conduzi meu trabalho com transparência, diálogo aberto e busca constante pela resolução equilibrada de conflitos”, declarou. Ele também afirmou que não havia sido notificado formalmente sobre o boletim.
A Prefeitura, por meio da Secretaria de Negócios Jurídicos, declarou desconhecer o teor do documento e afirmou que não poderia tomar providências sem comunicação oficial. Ainda assim, a exoneração foi confirmada dias depois.
Substituição indefinida e alerta aceso
O nome do novo secretário de Segurança ainda não foi anunciado. Segundo nota da administração, a escolha ocorrerá em breve, com a promessa de continuidade dos trabalhos.
A queda de Luiz Carlos, no entanto, não pode ser tratada como episódio isolado. Ela reflete um ambiente de tensão interna, falhas graves de comunicação institucional e a incapacidade de lidar com denúncias de forma transparente e respeitosa com a sociedade. É o segundo revés público de um secretário em 2025, e um sinal claro de que parte do atual governo enfrenta mais turbulência do que admite.
Fonte: Portal da Cidade Mogi Mirim